Correio dos Campos

Mulher morta pelo ex-marido descobriu suspeita de pedofilia antes da separação

A vítima foi assassinada com seis disparos de arma de fogo na frente dos filhos do casal; o crime ocorreu em Pinhais, na Grande Curitiba
22 de abril de 2020 às 08:49
A VÍTIMA E O SUSPEITO PELO CRIME QUANDO AINDA ERAM CASADOS. (FOTO: REPRODUÇÃO/RIC RECORD TV)

A cabeleireira Valdinéia Soares Pereira, de 38 anos, foi assassinada a tiros pelo ex-marido, o advogado Michael Gonçalves Barreto, de 32 anos, na frente dos dois filhos do casal no início de abril em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Desde então, o suspeito está preso e agora um áudio enviado pela vítima, e revelado com exclusividade para a RIC Record TV, pode ajudar a entender o que pode ter motivado a discussão que antecedeu o crime.

O casal, que viveu um relacionamento de dez anos entre idas e vindas, se separou definitivamente em fevereiro de 2019. De acordo com o áudio, Valdineia decidiu se separar após descobrir um suposto caso de pedofilia praticado pelo marido no início do relacionamento entre os dois.

“É muito triste o que ele fez, eu tô sem chão. Mas eu tenho que pensar nos meus filhos, tenho que pensar no meu bem estar. Eu orei, jejuei, tudo o que estava ao meu alcance para tentar salvar o casamento, eu fiz. Só que o que a gente descobriu não tem como. O que eu descobri dele, não tem como eu ficar com ele, entendeu. Infelizmente, tudo o que eu descobri, o que ele fez, não tem como eu ficar. Dessa vez ele vai se ferrar, o que ele fez é pedofilia. E ele fez abuso de menor. Que Deus tenha misericórdia dele mesmo”, diz a mensagem que a vítima mandou para uma familiar.

Advogado suspeito de pedofilia

Conforme o delegado Wallace de Brito, uma jovem, hoje com 19 anos, registrou um boletim de ocorrência contra Michael por ter sido abusada sexualmente dos 9 aos 11 anos de idade, dentro da casa onde ele vivia com Valdineia.

Partes do depoimento são chocantes e contam em detalhes do que a criança teria passado:

“Michael disse que ia fazer um leite que não era doce e nem salgado para a declarante. Que logo em seguida Michael lhe mostrou uma foto do seu pênis, o qual estava ereto. A declarante não entendeu o que estava acontecendo e o mesmo disse que o com o tempo, ela entenderia. Nesse momento, Michael ainda tentou beijá-la, mas a mesma se esquivou. No decorrer do tempo, Michael passou a insistir em tocar na vítima, assim com o tempo, ele passou a beijar a boca dela. A vítima afirma que começou achar estranho que Michael dizia que não era para contar pra ninguém, mas que acabou aceitando”, diz um trecho do documento.

Também foi denunciado que o advogado costumava colocar a mão da menina diretamente em seu pênis e com suas mãos fazer os movimentos de masturbação.

“Ela tinha nove anos, ela mesmo diz que não entendia muito bem as coisas, mas que isso ia acontecendo, em um primeiro momento até, ela achando normal, mas que depois, ela começou a ver que isso não condizia com uma atitude que se esperava dessa pessoas, mas mesmo assim ele persistia. Os abusos foram mais frequentes entre os anos de 2009 e 2011, mas no próprio depoimento, a vítima conta que nos anos de 2016, 2017 e 2018, Michael voltou a mandar mensagens por rede social”, explica o delegado.

Nos recados, que ficaram salvos e foram anexados ao boletim de ocorrência, Michael insiste em falar com a adolescente, até que ela responde para ele deixá-la. Irritado por ser contrariado, o advogado chega a fazer uma ameaça.

Segundo a advogada Eliane Faustino, que representa a jovem, foi na época desse contato que, com medo, ela decidiu falar sobre o caso.

“Existe esse momento em que ele volta a procurá-la, declara que ela foi o primeiro amor da vida dele, isso está documentado. A partir disso, ela sente medo, mais medo do que já sentia desde a infância, quando começou a perceber que o que acontecia com ela era errado. Foi então que ela denunciou o fato da mensagem para a mãe e essa mãe conta para a esposa do agressor e a esposa tira satisfações com ele”, diz Faustino.

A advogado ainda pontua que sua cliente, agora, se sente culpada pelo seu suposto abusador ter assassinado a esposa. “Ela se sente culpada pelo crime de feminicídio porque ela acha que se ela tivesse contado antes, talvez, ela tivesse preservado a vida daquela mulher”.

Tanto para Eliane como para a advogada Darcieli Bachmann Duro, que representa a família de Valdineia, os crimes estão relacionados.

“Eles já tinham uma separação formalizada lá em 2013. Eles estabeleceram depois uma união estável. E nesse período de fevereiro, ela põe um fim a relação e é muito claro a razão que fez a Valdinéa se separar do Michael, foi a questão de que chegou ao conhecimento dela que ele teria praticado o crime de estupro de vulnerável”, ressalta Darcieli.

O que diz a defesa

A defesa alega que o suspeito agiu porque foi provocado pela ex-mulher, mas não detalha o que teria sido dito no momento do crime.

“O crime não foi premeditado, ele não teve tempo de premeditar esse crime, até porque ele tem uma receituário médico que ele apresentava pensamentos suicidas. A vítima falou coisas fortíssimas para ele e foi nesse momento que ele não soube lidar com a sua reação. Ele teve sim uma ação, mas uma ação inesperada”, declara Cleonice Santos da Silva.

O caso segue em investigação.

O crime

No dia do crime, Michael foi armado até a casa onde viviam os filhos e a ex-mulher. Depois de iniciar uma discussão com Valdineia no portão, ele invadiu o local e atirou na mulher. Ele fugiu deixando as crianças, mas apresentou na delegacia horas mais tarde.

De acordo com Eunice Pereira, irmã da vítima, os dois meninos foram encontrados debruçados sobre o corpo da mãe já morta.

“Eles estavam debruçados em cima dela, gritando para ela levantar, triste né. Uma cena dessas com uma criança de seis anos e outro de nove”.

Familiares da mulher assassinada pelo ex-marido contam que ele sempre foi um homem violento e que Michael chegou a bater nela quando estava grávida do segundo filho.

“Uma vez lá na casa da minha mãe, quando ela estava para ganhar o segundo menino. Eles estavam separados na época e ela foi lá para Joinville para ganhar o menino. Isso foi em 2013. Ele fez uma agressão que se não fosse a minha irmã Célia chegar, ele tinha matado ela estrangulada. Mas porque ela gostava dele, depois de um tempo ela voltou para Curitiba e ficou até dia 19 de fevereiro morando com ele”, contou um dia após o crime.

Um ex-vizinho do casal, que preferiu não se identificar, fez questão de sustentar que o advogado era agressivo com Valdineia.

“Ele era muito violento com a esposa dele, isso ele sempre foi. Brigas você sempre ouvia. tanto é que quando ficou muito caracterizado isso, ele levantou os muros da casa, muito alto, para que ninguém visse a casa. A última briga que teve, ele saiu com o portão e tudo com o carro”, lembra.

As crianças estão sob a custódia dos irmãos de Valdineia.

Fonte: Ric Mais