Organizadores de ato contra o racismo, em Curitiba, dizem que vandalismo aconteceu após dispersão

Organizadores do ato contra o racismo realizado na noite de segunda-feira (1º), em Curitiba, afirmaram que o vandalismo registrado aconteceu após dispersão no fim do protesto.
“Infelizmente, no final do ato, em uma dispersão de alguns poucos, houve vandalismo contra o patrimônio público. O que, ao nosso ver, é muito estranho e suspeito e representa a presença organizada de infiltrados que desejam a criminalização do movimento”, diz um trecho da nota enviada pela organização da manifestação.
*No fim desta reportagem, é possível ler a íntegra da nota dos organizadores.
O protesto contra o racismo foi ordeiro e pacífico na Praça Santos Andrade, no Centro da capital paranaense. Mas, depois, houve depredação.
Ação da PM
Oito pessoas foram detidas e apreendidas, sendo levadas para a delegacia, de acordo com a Polícia Militar (PM) . Um policial ficou ferido. Conforme a PM, a lesão foi leve.
Um adolescente foi liberado ainda na segunda-feira. As outras sete pessoas, segundo a PM, continuam presas no Centro de Operações Policiais Especiais (Cope). Elas foram autuados por desacato, associação criminosa e dano ao patrimônio.
Policiais usaram bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha. *Leia, no fim da reportagem, a nota enviada pela PM na íntegra.
“Eram em torno de mil pessoas, talvez um pouco mais em determinado momento. Quando iniciaram a aglomeração na Santos Andrade, eram entre 500 e 600 pessoas. Foi ganhando corpo, a ponto de chegar entre mil e 1,2 mil pessoas. Da mesma maneira que eles foram crescendo, a gente teve que implementar policiamento, totalizando de 150 a 200 policiais nessa operação”, afirmou o coronel Morais.
O protesto
Os manifestantes ocuparam boa parte da Praça Santos Andrade. Eles levaram cartazes em defesa da democracia e contra o racismo. A maior parte dos participantes era formada por jovens.
Ali, apesar de o ato ter sido pacífico, nem todos os manifestantes respeitaram a recomendação de distanciamento – necessária por causa da pandemia do novo coronavírus. Também não foram todos que usaram máscara de proteção.
Depredação
O segurança da Junta Comercial, que foi depredada, contou que sentiu medo.
“Uns atiraram pedras. Só deu tempo de correr, acender a luz e me esconder, não deu tempo de fazer mais nada. A gente fica nervoso, preocupado. Pensa em um monte de coisa: na família, nos amigos. O mais certo nessas horas é se esconder mesmo. Para o pessoal que vinha na frente, até pedi para não tacar pedra, eles até atenderam, não tacaram. Mas, o pessoal que vinha atrás, tacou três, quatro pedras de uma vez, e ninguém segurou mais”, disse Rogério da Silva de Lar.
Além da Junta Comercial, a fachada do Fórum Cível também foi destruída.Lixeiras e sacos de lixo foram incendiados, e agências bancárias tiveram os vidros quebrados.
Na manhã desta terça-feira (2), a prefeitura informou que equipes da Urbanização de Curitiba trabalharam ainda na noite de segunda-feira para consertar e higienizar os pontos de ônibus que foram vandalizados.
Segundo a administração municipal, as pichações e os cacos de vidro já tinham sido removidos nesta manhã.
O que foi danificado?
Confira o que foi danificado na cidade, de acordo com o balanço divulgado pela Prefeitura de Curitiba na manhã desta terça-feira:
- Sete pontos na Praça Tiradentes, com danos aos totens de mapas das linhas, que foram quebrados
- Vidros foram quebrados das estações-tubo Palácio e Comendador Fontana, no Centro Cívico
- Tubos foram pichados e totens da Clear Channel quebrados na Avenida Cândido de Abreu
O que dizem os organizadores do protesto?
“A organização do ato CONTRA O RACISMO EM CURITIBA vem a público manifestar que, diferentemente do vinculado nas redes sociais e na imprensa, os manifestantes, além de utilizar proteção para evitar a propagação da epidemia de COVID-19, comportaram-se de maneira ordeira, em defesa da democracia e contra o racismo!
O ato foi um sucesso. Reuniu muitas pessoas, teve uma atmosfera esperançosa por dias melhores.
Nossa luta é por igualdade, contra o racismo, a violência contra jovens negros nas periferias, a proliferação de grupos que propagam o ódio e o genocidio de brasileiros promovido pela falta de uma política clara de saúde durante esta pandemia.
Infelizmente, no final do ato, em uma dispersão de alguns poucos, houve vandalismo contra o patrimônio público. O que, ao nosso ver, é muito estranho e suspeito e representa a presença organizada de infiltrados que desejam a criminalização do movimento.
O uso de força excessiva por parte da polícia demonstra também a incapacidade de diálogo e a opção pela agressão.
Conclamamos a união de curitibanos de forma individual ou através dos movimentos sociais para a defesa da democracia contra o racismo”.
Assinam esta nota:
- Movimento Feminista de Mulheres Negras
- Bando Cultural Favelados da Rocinha FAVELA
- União da Comunidade dos Estudantes e Profissionais Haitianos ( UCEPH)
- J23 – Juventude do Cidadania
- Rede nenhuma Vida a Menos
- Apoio do Grupo Dignidade e da Aliança Nacional LGBTI+
- Coletivo Enedina da UTFPR
O que diz a PM?
“A Polícia Militar do Paraná acompanhou desde o início a manifestação desta segunda-feira (01/06) no Centro de Curitiba. Num primeiro momento, a PM se fez presente nas proximidades da concentração, na Praça Santos Andrade, para garantir, como de praxe, a segurança dos manifestantes e dos cidadãos que circulavam pela região central a pé ou de veículo. Inicialmente eram cerca de 600 pessoas, as quais deslocaram-se, já no início da noite, sentido Praça Nossa Senhora de Salete, no Centro Cívico. Ao chegar lá o grupo já somava cerca de 1,2 mil pessoas.
Já em frente ao Palácio Iguaçu, o comportamento de alguns componentes do grupo começou a mudar, os quais passaram fazer incitação, direcionando ao vandalismo. Neste momento tentaram entrar no Palácio Iguaçu, passaram a arremessar pedras contra o edifício e arrancaram a bandeira do mastro, rasgaram e queimaram parte dela.
Em seguida, com a presença da PM para conter os atos de depredação, eles começaram a fazer o sentido inverso (Centro da cidade), pela Avenida Cândido de Abreu, cometendo outros atos de vandalismo, desta vez contra agências bancárias, incluindo a Junta Comercial e o Fórum Cível, pontos de ônibus, atirando pedras contra o patrimônio público e privado e incomodando pedestres e motoristas que circulavam pelo local.
Durante o momento mais crítico de depredação, a PM fez uso moderado da força para dispersão. Nas ações foram identificadas e detidas sete pessoas (uma delas mulher) por depredação e vandalismo, as quais foram encaminhadas para o Centro de Operações Policiais Especiais (COPE). Em frente ao palácio, a PM também encontrou alguns miguelitos (peças feitas com pregos ou grampos e utilizados para furar pneus de veículos).
Até o fim do acompanhamento policial nenhuma pessoa se apresentou ferido pela ação de dispersão. Um policial ficou ferido. A PM também está fornecendo à autoridade policial as imagens feitas e informações levantadas, as quais poderão auxiliar na investigação.
A PM reitera que as equipes estavam acompanhando a manifestação para a segurança dos próprios manifestantes e do cidadão, que respeita o direito ao protesto e só age quando o limite da ordem e do bom senso é ultrapassado. As equipes policiais reforçaram o policiamento nas vias do Centro da cidade para acompanhar a dispersão completa dos manifestantes e evitar mais danos ao patrimônio e vandalismo”.
Fonte: G1