Correio dos Campos

Setor de alimentação tem dificuldade para preencher vagas mesmo com desemprego em baixa

Mesmo com aumento na média salarial e queda no desemprego, empresários relatam falta de interessados e dificuldades para preencher vagas no setor de alimentação fora do lar
23 de maio de 2025 às 15:46
(Foto: Divulgação)

COM ASSESSORIAS – Mesmo com o desemprego no Brasil a 7%, menor número registrado no período, segundo o IBGE, o setor de alimentação fora do lar continua enfrentando dificuldades em contratar, é o que mostra uma sondagem da Abrasel Campos Gerais com seus associados.

A maior dificuldade na contratação está relacionada ao atendimento nos fins de semana e feriados e ao desejo dos candidatos de não terem emprego formal.

Davi Kiapuchinski, proprietário do QDC Mini Mercado, ressalta isso e inclui as escalas apertadas e obstáculos da cozinha, como altas temperaturas e pressão.

Para ele, convencer um jovem de que a cozinha pode ser uma carreira é complicado. “Ele não enxerga que daqui a 5 anos pode ganhar muito bem. Nem quer enxergar. Do outro lado a empresa também não sabe se existirá mais daqui 5 anos. Problemas de liderança, gestão, revoluções tecnológicas e alta carga tributária e burocrática matam muitos sonhos antes de cinco anos”.

O empreendedor pontua ainda que há inúmeras prioridades na vida das pessoas e que um emprego formal deixou de ser prioridade. “As pessoas veem outras oportunidades de renda além do emprego formal, o que dificulta para as empresas que têm que oferecer cada vez mais benefícios para atrair boas pessoas”.

Urubatan Sena, proprietário do Varanda Grill & Pizza, ressalta que os salários defasados são outro motivo para as dificuldades: “O setor tem particularidades como os trabalhos aos finais de semana e feriados, o que dificulta a atração de novos colaboradores, que têm optado por ocupações em funções que não trabalham aos finais de semana e feriados”.

Para ele, mesmo com treinamento para quem não possui experiência e benefícios, o desejo de não estar em um emprego formal é o que afasta os colaboradores. “E isso se deve em grande parte porque a maioria está recebendo algum benefício social ou assistencial, e não desejam perder os benefícios com o registro em carteira”, finaliza.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD) divulgados em março deste ano o salário no setor de alimentação fora do lar atingiu sua maior média salarial da história, chegando a R$ 2.222. Porém, um levantamento da Abrasel Nacional de março indicou que 90% dos empresários consideram “difícil” ou “muito difícil” contratar novos funcionários. A margem de erro é de 2% e o intervalo de confiança é de 95%.

Ainda segundo a pesquisa, os principais entraves na hora de encontrar mão de obra são a dificuldade de encontrar profissionais bem qualificados (64%) e a falta de interessados nas vagas (61%). Outros motivos também contribuem para o desafio de contratação: horários pouco atrativos para os cargos oferecidos (33%), alta demanda pelos profissionais (23%) e migração da mão de obra para outras áreas (21%).

Além disso, 20% dos empresários afirmam que os salários desejados estão acima das possibilidades de pagamento dos estabelecimentos. Cargos especializados, como sushiman e churrasqueiro são os mais difíceis de preencher, com 88% dos empreendedores considerando a dificuldade de contratar como “alta” ou “muito alta”, seguidos dos cargos de cozinheiro-chefe (81%) e gerente (78%).

Lucas Klas, presidente da Abrasel Campos Gerais, se mostra preocupado com a situação local. “Vemos todo dia associados em busca de novos colaboradores e que estão com equipe reduzida e sobrecarregada, o que reduz a qualidade no atendimento e, consequentemente, afeta todo o setor de alimentação fora do lar”.

A Abrasel Campos Gerais vem se mobilizando para mudar o cenário, buscando soluções para os diversos problemas apresentados pelos empreendedores e promovendo qualificação para quem deseja colaborar com o setor.

O que dizem os especialistas

Segundo Gessica Padilha, responsável pela seleção e contratação de pessoas, hoje há uma inversão de papéis no mercado de trabalho, pois a empresa deve ser atrativa ao candidato. “Um fator engraçado e interessante é que quando abria uma vaga de operador de produção na BRF tinha filas para entrevistar, hoje não é assim”.

Segundo a jobhunter e headhunter, benefícios acabam fazendo o colaborador trocar de empresa. “Às vezes trocam um trabalho por R$100 a mais em vale-refeição (VR)”.

A especialista pontua ainda sobre a assertividade das empresas em fazer seleção de talentos. “Hoje as empresas precisam ser mais específicas na abertura de uma vaga”. Para ela, é preciso caçar talentos.

O advogado da Abrasel Paraná, Dr. Piragibe Santiago, traz pontos importantes para a contratação, como o trabalhador intermitente.

Ele pontua que a contratação de funcionários deve se dar conforme a realidade da prestação de serviço. “Então, aquele funcionário que vai, que seja alguns dias na semana ou poucos dias, mas vai de forma frequente, toda semana, durante um longo período de tempo, recebe ordens, não pode se fazer substituir e, caso não vá, tem que justificar sua ausência, isso tudo é considerado um empregado. Independentemente se for por semana uma vez, duas, três ou todos os dias, deve ser registrado”.

O taxista, utilizado principalmente por bares, é considerado aquele super eventual, que não tem dia certo, que não recebe ordens, você pode mandar outro sem precisar de autorização. “Simplesmente, se ele fala que vai prestar um serviço e não for, não tem nenhum tipo de punição”.

Já o intermitente, segundo Piragibe, é uma espécie de taxista regulamentado. “Ele também pode recusar a prestação de serviço, mas, se ele falar que vai e não for, tem uma multa de 50% do valor que ele receberia naquele dia. O intermitente tem registro em carteira e deve haver um aviso prévio de três dias para convocá-lo”.

Ele pontua ainda que o intermitente pode ser punido, tem que bater ponto, vai cumprir horário. Pode receber por dia, quinzena ou mês e tem todos os direitos relativos ao empregado. “A vantagem do intermitente é que a diária dele pode incluir já as horas trabalhadas, o descanso semanal remunerado, o adicional de um terço das férias, tudo no mesmo dia da prestação do serviço”.

E, apesar da jornada que muitas vezes pega o domingo, a Convenção Coletiva de Trabalho autoriza o intervalo maior para descanso. “Então, por exemplo, em vez de duas horas, que é o limite de intervalo, pode ser até quatro horas. E se for mais do que quatro, até seis horas de intervalo, aí teria que conceder o vale-transporte para o empregado nesse intervalo”.

Atualmente, a Convenção Coletiva de Trabalho de Ponta Grossa e da Região dos Campos Gerais traz 1 domingo ao mês como de descanso obrigatório, anuênio e adicional noturno a partir das 22 horas de 25% sobre a hora normal.