‘Deixei na mão dela, acreditando que era uma pessoa boa’, diz avô sobre neta que desviou R$ 200 mil e culpou presidente Lula

O idoso de 87 anos que teve cerca de R$ 200 mil desviados pela própria neta, de 35 anos, afirmou que confiou nela para administrar as finanças porque acreditava que ela era uma “pessoa boa”.
“Dá uma dor no coração, quase de morrer. Às vezes fico pensando assim: a coragem de uma pessoa dessa… Eu franquear tudo, deixei na mão dela, acreditando que ela era uma pessoa boa, e ela ter coragem de roubar nesse tipo. Isso é roubar. Eu trabalhei desde piá, toda vida, nunca peguei 10 centavos de ninguém. Por que que agora vem uma sem vergonha dessa me roubar?”, desabafou.
O caso foi registrado em Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná, e a suspeita não teve o nome divulgado.
Segundo o delegado Gabriel Munhoz, os valores desviados eram provenientes da aposentadoria mensal que o idoso recebe e de um precatório (dívida paga após processo judicial).
“O inquérito revela que a suspeita entregava apenas parte do valor da aposentadoria ao idoso, alegando que o restante estava guardado. Quando questionada sobre o décimo terceiro salário pelo idoso, afirmava que ‘o Lula tinha cortado’, evidenciando seu dolo e desprezo pelo avô”, afirma Munhoz.
Conforme o delegado, os desvios começaram em 2021, quando a neta passou a ser responsável por cuidar das finanças do idoso.
Munhoz também conta que a mulher não trabalha e usava o dinheiro desviado do avô para se sustentar.
Em depoimento à polícia, ela negou os atos. Depois de depor, a neta foi liberada.
“Os fatos não se deram como relatado pela autoridade policial. A suposta vítima era avô da acusada e colaborava voluntariamente para sua manutenção. Ademais, os valores são inferiores aos indicados no inquérito. Mas, mesmo não tendo ocorrido qualquer fraude, a acusada pretende ressarcir ao avô pelos valores emprestados”, aponta o advogado dela, Fernando Madureira.
Golpe foi descoberto por atraso no pagamento do IPVA
A família percebeu o crime depois que um dos filhos da vítima descobriu que o Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores (IPVA) do carro do idoso estava atrasado havia três anos, mesmo após ele ter entregado dinheiro à neta para o pagamento.
Após a suspeita, o filho procurou o gerente do banco onde o idoso tem conta e descobriu que a mulher estava fazendo transferências para a própria conta.
“Eu conversei com o gerente. Ele olhou a conta e falou: ‘Aqui não tem dinheiro nenhum’. Daí ele falou assim para mim: ‘Seu pai recebeu um precatório de R$ 123 mil e aqui tem umas transferências. Eu falei: ‘Espera aí! Como assim? Transferências?’. Tirei os extratos e fui descobrindo tudo. Eu juro por Deus, fiquei surpreso, porque eu jamais imaginaria que ela estivesse fazendo isso com meu pai, que é uma pessoa idosa”, detalha o filho.
Suspeita criou ‘personagem fictícia’ para aplicar os golpes
O delegado Gabriel Munhoz afirma que a neta se aproveitava da confiança depositada nela pelo avô e pelo restante da família e se oferecia para “ajudar” o idoso a sacar a aposentadoria.
Segundo Munhoz, ela também realizava empréstimos e abria contas no nome do avô, sem a autorização dele, e chegou a criar uma personagem fictícia, que se apresentava como funcionária da Caixa Econômica, para enganar o idoso.
“Para aplicar o golpe, a mulher criou uma personagem fictícia chamada ‘Jessica’, supostamente funcionária da Caixa Econômica, que ligava informando sobre bloqueios na conta e valores a serem retirados, além de abrir contas em outros bancos para desviar parte do valor”, detalha Munhoz.
As investigações apontaram que a linha telefônica usada pela suposta “Jessica” estava em nome de uma pessoa ligada à suspeita.
No golpe, ela transferia parte do valor para a própria conta, deixando o idoso acreditar que o dinheiro estava sendo guardado. As investigações apontam que, no total, ela desviou cerca de R$ 72 mil da aposentadoria do avô.
Um precatório recebido pelo homem também foi alvo de desvios. Nesse caso, a mulher se apropriou de cerca de R$ 109 mil do total de R$ 123,8 mil que foram depositados na conta do idoso, explica o delegado.
“Do valor total do precatório, apenas R$ 14 mil foram efetivamente repassados ao avô, tendo sido informado que o restante estava ‘investido’ ou ‘bloqueado’, quando, na verdade, os valores foram sendo retirados ao longo do tempo”, afirma.
Crime tem pena prevista em até 10 anos de prisão
A suspeita foi indiciada por estelionato, majorado pelo crime ter sido cometido contra idoso. Ela também responde pelo caráter contínuo do crime, uma vez que, segundo o delegado, os golpes foram aplicados ao longo de vários anos.
Para o crime, o Código Penal prevê pena de até 10 anos de prisão. Ela vai responder em liberdade.
Fonte: g1