Correio dos Campos

HGU realiza, pela primeira vez, cirurgia cerebral com paciente acordado

Procedimento é indicado para tratar lesões cerebrais em áreas próximas às de linguagem e motricidade
10 de março de 2020 às 12:45
Foto: divulgação

COM ASSESSORIAS – Na última semana, o Hospital Geral Unimed (HGU), contou com a primeira craniotomia (cirurgia intracraniana) em um paciente acordado.

De acordo com o neurocirurgião que liderou o procedimento, Alexandre Rossatto Felix, esse tipo de cirurgia é indicado para lesões em áreas cerebrais consideradas eloquentes, como motricidade e linguagem. “O que foi determinante nesse caso também é que a cirurgia seria do lado esquerdo, que geralmente é o lado dominante. Neste paciente, estavam reunidas duas condições importantes: a lesão estava no lado esquerdo do cérebro e próximo à área da fala”.

O procedimento contou com duas etapas, a preparação do paciente e a cirurgia propriamente dita. Na primeira, o paciente é totalmente sedado e fica desacordado até que a equipe de neurocirurgiões faça o todo o processo de acesso ao cérebro. Depois dessa fase é que o paciente permanece anestesiado para que continue não sentindo dor, mas com a sedação controlada de forma que permaneça acordado.

O anestesiologista André Trentini explica que essa modalidade contribui para melhorar resultados no tratamento de lesões vasculares, tumores ou focos epiléticos, minimizando as sequelas. “É um desafio garantir a segurança e conforto do paciente durante a cirurgia. Felizmente, em pacientes com perfil compatível ao tipo de cirurgia, orientados e treinados, contamos com técnicas e medicamentos que nos permitem alcançar esses objetivos”.

Durante todo o período em que o paciente está consciente, são feitos testes de estímulos, que identificam as áreas motora e de linguagem para auxiliar o cirurgião a chegar ao local da lesão sem comprometer essas funções.

Segundo o neurofisiologista Romero de Castro, são realizadas interações com o paciente para que ele descreva figuras, imagens enquanto as funções são monitoradas. “A linguagem não é só a palavra. Existe toda uma área da fala responsável também pela análise, pela parte semântica, pela interpretação das figuras que estão sendo mostradas. Tem que conversar com o paciente sobre a dinâmica diária dele, a profissão, os hobbies, para favorecer a interação”.

Ao todo, a cirurgia durou cerca de seis horas. Felix ressalta que “por ser uma área muito nobre, precisa tomar um cuidado muito especial, não pode haver nenhum tipo de lesão vascular que possa comprometer outras áreas do cérebro. O processo de preparação e a cirurgia em si são processos diferentes e ambos demorados”, comenta Felix.

Por se tratar de uma cirurgia com alta complexidade, o neurocirurgião destaca que realização desse tipo de procedimento vai além da técnica utilizada. “Requer uma integração da equipe como um todo, que deve estar afinada e o ambiente tem que estar preparado e equipado para atender possíveis intercorrências. Tem que contar com os melhores equipamentos, todo o material neurocirúrgico de boa qualidade e ter estrutura pra cuidar no pós-operatório também, com uma unidade de terapia intensiva experiente”, finaliza.

A equipe médica que realizou a cirurgia foi composta pelos neurocirurgiões Alexandre Rossatto Felix e Leonardo Welling; o neurofisiologista Romero de Castro; o anestesiologista André Trentini; a fisioterapeuta Melissa Harsanyi; além da instrumentadora Claricinda Neves Pinto; enfermeiros e técnicos de enfermagem.