Correio dos Campos

Apaixonado pela polícia e pela Schoeler, aluno autista ganha festa surpresa em Piraí do Sul

Conheça um pouco da emocionante história de Emanoel de Oliveira, aluno do Colégio Estadual Rivadávia Vargas que completou 26 anos em junho desse ano
27 de setembro de 2023 às 19:00
(Fotos: Divulgação)

DA REDAÇÃO – Apaixonado desde pequeno pelas polícias Civil e Militar, o piraiense Emanoel de Oliveira, que voltou a estudar no ano passado no Colégio Estadual Rivadávia Vargas, em Piraí do Sul, ganhou uma festa surpresa com tudo que tinha direito, inclusive com a presença de policiais militares que integram a Patrulha Escolar e que ficaram sabendo da paixão do aluno pelo trabalho desenvolvido pela corporação.

Diagnosticado com autismo quando tinha apenas 2 anos, Emanoel sempre despertou a atenção das pessoas pela forma descontraída e bem-humorada com as quais trata a todos. Dono de uma emocionante história de vida, repleta de momentos de superação, como a perda de uma irmã, aos 26 anos, também deficiente, ele foi surpreendido pela equipe do colégio com a comemoração que nem mesmo sua família esperava.

“Conviver com o Emanoel é tão gostoso, e o exemplo dele é tão impressionante, que não poderíamos deixar que esse momento tão importante passasse em branco”, conta a professora Cíntia Mara Pereira, idealizadora da festa surpresa.

“Conhecendo e bem as suas paixões, que ele fala tanto e a todo momento, convidamos a equipe da Patrulha, que prontamente aceitou o convite e esteve conosco durante o aniversário que representou não apenas os nossos parabéns, mas também o nosso ‘muito obrigado’ ao Emanoel por fazer parte da comunidade escolar do Rivadávia”, emendou a diretora da instituição, Danielle Maria Rodrigues Macedo.

Festa – A comemoração organizada pela escola contou com a participação de professores, funcionários e colegas de turma do aluno, além de familiares que também fizeram questão de levar o seu abraço ao aniversariante do dia.

Em meio aos vários presentes recebidos, Emanoel foi informado pelos policiais militares que seria levado por eles até a sede da Schoeler Suínos, também localizada em Piraí do Sul, para que ele conhecesse a estrutura da empresa pela qual também demonstra diariamente a sua paixão.

Como prometido, a visita aconteceu alguns dias depois da festa surpresa, organizada pelos policiais da Patrulha Escolar, Cabo Martins e Sargento Soares, que levaram Emanoel até a empresa e a sede da Rádio Brotas, onde o aluno conversou ao vivo com uma das locutoras da emissora.

Esbanjando simpatia e desenvoltura, Emanoel ficou encantado com sua participação no rádio e também pela forma como foi recebido na Schoeler Suínos, onde teve a oportunidade de conhecer parte da frota da empresa.

Um pouco da história

Emocionada com a surpresa oferecida pela escola, a mãe de Emanoel, Juslei Carneiro, contou parte da comovente história de lutas travadas pela família durante toda a vida dos dois filhos portadores de deficiência.

Com orgulho por ter superado aos entraves impostos pela vida, ela conversou com a equipe do Correio dos Campos. Confira.

O diagnóstico

“Por volta de 2 anos, notamos que ele tinha algo diferente. Na época, quem deu todo apoio para que ele fosse passar por exames com especialistas em Curitiba foi o fisioterapeuta da APAE, o Junior (Luiz Carlos Macedo Junior), que foi quem detectou e suspeitou do autismo nele.

Naquele período o espectro autista não tinha a mesma visibilidade que tem hoje, porque era uma doença invisível aos olhos da sociedade, e até mesmo aos olhos clínicos. E nesse sentido foi determinante a atuação de algumas pessoas como o Junior, a Lia, minha irmã, e o Dr. Saulo (pediatra na cidade), para que o diagnóstico fosse apurado e fechado.

Dali em diante iniciamos a nossa luta para inserir o Emanoel na sociedade, o que foi a parte mais difícil. E digo isso porque eu tinha outra filha com paralisia cerebral, a Loraine, que viveu até os 26 anos e faleceu há 4 anos. Ela com sua deficiência física era mais bem aceita que o Emanoel, com sua limitação intelectual.

As pessoas olhavam para ela com olhar de pena, devido ao fato de não falar, nem andar. Já com o Emanoel a situação foi outra, pior, porque ele era visto com um certo receio, talvez pelo comportamento, sempre muito falante e disposto, coisa que nem sempre as pessoas sabem como lidar.

Após o diagnóstico ele foi inserido na APAE, onde permaneceu por muitos anos e contou com um trabalho excelente que o ajudou em seu desenvolvimento. No lado familiar, também procuramos fazer a nossa parte, trabalhando sua independência e autonomia até o limite que conseguimos e dentro do que era possível.

Pelo espectro ser bem pouco falado naquele tempo, encontramos uma série de entraves nesse período, como por exemplo o atendimento em postos de saúde e hospitais quando ele precisou, já que não o viam como alguém que precisava de atendimento prioritário.

Depois que minha filha faleceu nós nos mudamos para uma cidade da região, onde as coisas complicaram porque não encontramos o apoio que ele precisava. Morávamos num bairro humilde, de muita gente boa, mas que também tinha alguns criminosos, o que tornou nossa permanência lá extremamente complicada porque o Emanoel ficava em êxtase quando viaturas do Choque e da Rotam faziam operações no bairro.

Por essa paixão que ele sempre teve pela polícia, a sua permanência naquele local acabou se tornando uma situação perigosa, nos obrigando a retornar para Piraí do Sul. Inclusive ele recebeu ameaças por lá, porque os bandidos não tinham a consciência do grau de comprometimento de sua deficiência.

Com o retorno para a cidade, ele foi reinserido no Colégio Rivadávia Vargas, onde já havia estudado antes e sempre foi bem recebido e acolhido, tratado com respeito e até com admiração de todos.

Extremamente sociável e calmo, o Emanoel claro que as vezes fica chateado com algo que acontece, mas isso normalmente em casa. Ele nunca teve histórico de violência e no geral ele tem bom comportamento.

Como mãe, senti muita dificuldade com ele porque as pessoas nem sempre foram receptivas, estavam abertas e aceitavam esse tipo de situação. Quando alguém interage com ele, ele fica muito contente, conta para todos nós”, conta Juslei.

Incentivo

“Entendo que ele não terá progresso na escola, que não chegará a uma universidade. Mesmo assim eu incentivo todos os pais de autistas para que procurem inserir os seus filhos na escola e onde mais puderem, porque embora existam limitações isso pode fazer muita diferença na vida deles.

Quando o Emanoel participava dos encontros e festivais promovidos pela APAE em outras cidades, ele sempre demonstrou uma postura bem elegante, se comportando maravilhosamente bem em restaurantes e outros locais”.

Cuidado

“Em casa nós o tratamos com respeito e cuidado, e ele também cuida da gente. Para mim ele faz café e a imagem que ele nos passa é que ele é responsável pela gente. Ele tem um sobrinho pequeno que sempre vive atendendo, evitando que faça alguma coisa perigosa.

Nós moramos no Jardim Isidoro e o sobrinho dele estuda na Escola Odette. Ele se propôs a buscá-lo na escola e a gente vê a responsabilidade que tem, porque pega na mão da criança durante todo o trajeto e realmente cuida como qualquer um de nós cuidaria.

Como o Emanoel tem medo de água, do fogo e de cachorro, por exemplo, ele não se expõe ao perigo e muito menos expõe os outros. Ele tem um cuidado consigo próprio e também com todas as pessoas que o rodeiam.

Ele trata todos muito bem e a convivência em casa é bem tranquila. Ele ajuda a limpar casa, ajuda nos outros serviços e, para nós, enquanto família, ele teve e sempre terá o nosso apoio e respaldo para que nunca se prive de viver uma vida normal, mesmo diante das limitações impostas pelo autismo.

Enfim, diante de tantas dificuldades, especialmente depois que meu ex-marido deixou a mim e meus 6 filhos, isso quando o Emanoel tinha perto de 9 anos, eu posso sim afirmar que as lutas e batalhas travadas ao longo de todo esse tempo, com o apoio fundamental de tantas pessoas boas que passaram por nosso caminho, pelas quais sou muito grata, foram vencidas. Nós vencemos!”, finalizou a mãe.