Correio dos Campos

Deputado registra boletim contra Cid Gomes e diz que tiros contra o senador foram ‘legítima defesa’

Senador licenciado Cid Gomes usou retroescavadeira para tentar entrar em batalhão onde policiais militares estavam amotinados em Sobral. Cid sofreu dois tiros durante a confusão.
21 de fevereiro de 2020 às 08:09
Cid Gomes usou veículo para tentar entrar em batalhão policial ocupado por policiais militares amotinados em Sobral — Foto: Camila Lima/SVM

O deputado federal Capitão Wagner (Pros-CE) registrou boletim de ocorrência contra o senador licenciado Cid Gomes alegando “tentativa de homicídio” de policiais quando Cid usou uma retroescavadeira para tentar entrar em uma batalhão ocupado por militares amotinados em Sobral, no interior do Ceará. Durante a confusão, o senador foi baleado duas vezes no peito.

Cid Gomes sofreu dois tiros durante a confusão. Para Capitão Wagner, os disparos foram uma ação de “legítima defesa” dos policiais que “corriam risco” de serem atropelados.

“Não houve ação dos policiais, houve uma reação dos policiais. Foi legítima defesa, qualquer jurista consultado vai dar essa reposta. A gente tem consciência de que o causador foi ele [Cid Gomes]”, afirma o deputado.

Capitão Wagner registrou o boletim de ocorrência no 34º Distrito Policial, em Fortaleza, ao lado de deputados que defendem a pauta de policiais militares no Congresso Capitão Alberto Neto (Republicanos AM) e Major Fabiana (PSL-RJ).

Ciro Gomes, irmão de Cid, diz que a manifestação dos policiais em Sobral foi uma “provocação” aos político da família Ferreira Gomes. “Ele [Cid Gomes] avisou que ia para lá [Sobral] restaurar a ordem, em paz, desarmado, e tentou tudo, antes daquilo [uso da retroescavadeira], temos a filmagem inteira. Ele levou um soco no rosto. Estava com um megafone, não estava com arma nenhuma”, afirmou Ciro.

“Registramos boletim de ocorrência contra Cid Ferreira Gomes, que usou uma retroescavadeira e atentou contra a vida de policiais militares lá no quartel de Sobral”, afirmou Capitão Wagner.

Além da tentativa de homicídio, Wagner aponta o crime contra patrimônio pública, alegando que Cid danificou a estrutura do batalhão policial ao tentar entrar no local com o trator.

Em um vídeo postado nas redes sociais, a deputada federal Major Fabiana aparece ao lado de Capitão Wagner criticando a atitude de Cid Gomes. “O senhor queria era causar morte de policiais militares e seus familiares, que tanto sofrem com a falta de condições de trabalho. Nós estamos aqui pra sensibilizar todo mundo. Chegou a hora de se posicionar.”

Confusão e tiroteio

Cid Gomes foi baleado duas vezes no peito quando tentou utilizar a retroescavadeira para invadir o batalhão policial. Ele recebeu atendimento em unidades hospitalares de Sobral e foi transferido nesta quinta-feira (20) para Fortaleza, onde recebe atendimento em um hospital particular. Conforme familiares, ele se recupera bem e não corre risco de morrer.

Parte dos policiais militares do Ceará contrários à proposta do Governo do Estado de reajuste salarial realizam movimentos paredistas, que a Secretaria da Segurança Pública considera “motim” e “vandalismo”.

Policiais invadiram batalhões militares e esvaziaram pneus de veículos policiais para tentar impedir a atuação da PM. Três policiais foram presos e mais de 300 são investigados, conforme a Secretaria da Segurança.

A proposta do governo é aumentar o salário de um soldado da PM dos atuais R$ 3,2 mil para R$ 4,5 mil, em aumentos progressivos até 2022.

O deputado Capitão Wagner afirmou que procurou nesta quinta-feira dialogar com o governador do Ceará, Camilo Santana (PT-CE) no Palácio da Abolição, sede do Governo do Estado do Ceará, mas que não foi recebido pelo chefe do executivo estadual.

‘Canal de diálogo’

Capitão Wagner afirma ainda que não convocou policiais para os atos paredistas e que no momento tenta abrir “um canal de diálogo” com o governo para chegar a um acordo com o governo.

“Se houve algum ato extremo, se algum policial causou vandalismo, não tem o nosso apoio”, diz Wagner. Três policiais foram presos na segunda-feira (18) suspeitos de furar o pneus de carros policiais na tentativa de impedir o trabalho de policiais, conforme a Secretaria da Segurança Pública.

Resumo:

  • Em 5 de dezembro, policiais e bombeiros militares organizaram um ato reivindicando melhoria salarial. Por lei, policiais militares são proibidos de fazer greve.
  • Em 31 de janeiro, o governo anunciou um pacote de reajuste para soldados.
  • Em 6 de fevereiro, data em que a proposta seria levada à Assembleia Legislativa do estado, policiais e bombeiros promoveram uma manifestação pedindo aumento superior ao sugerido.
  • Em 13 de fevereiro, o governo elevou a proposta de reajuste e anunciou acordo com os agentes de segurança. Um grupo dissidente, no entanto, ficou insatisfeito com o pacote oferecido.
  • Em 14 de fevereiro, o Ministério Público do Ceará (MPCE) recomendou ao comando da Polícia Militar do Ceará que impedisse agentes de promover manifestações.
  • Em 17 de fevereiro, a Justiça manteve a decisão sobre possibilidade de prisão de policiais em caso de manifestações.
  • Em 18 de fevereiro, três policiais foram presos em Fortaleza por cercar um veículo da PM e esvaziar os pneus. À noite, homens murcharam pneus de veículos de um batalhão na Região Metropolitana.
  • Em 19 de fevereiro, batalhões da Polícia Militar do Ceará foram atacados. Em Sobral, homens encapuzados em carro da PM ordenaram que comerciantes fechassem as portas. O senador Cid Gomes foi baleado em um protesto de policiais amotinados.

Fonte: G1