Mãe se matricula na mesma sala do filho para ajudá-lo a estudar em SP
Aos 31 anos de idade e fora da sala de aula há quase 20, a autônoma Dayana Mamer revolveu voltar a estudar para incentivar o filho a não abandonar a escola. Atualmente, eles estudam juntos na mesma classe em uma escola de São Vicente, no litoral de São Paulo, com o objetivo de garantirem um futuro melhor.
Os dois fazem parte da Educação de Jovens e Adultos (EJA), na Escola Municipal Raul Rocha do Amaral, localizada na Vila Ponte Nova. Dayana conta que voltou para a sala de aula, em 2018, para que o filho não abandonasse os estudos, já que percebeu que ele estava tendo muita dificuldade na escola.
A autônoma relata que parou de estudar ainda na 7ª série, quando engravidou, aos 14 anos. “Perdi minha juventude. Acabei tentando voltar a estudar de novo, mas não consegui e desisti na época”, diz.
Hoje, ela afirma que tenta recuperar o tempo perdido. “No 7º ano ele [filho] repetiu. A família achou que era melhor ele mudar de escola e ele acabou indo morar um ano com a minha tia, mas novamente ele repetiu essa série”, relembra.
Dayana então relata que o filho voltou a morar com ela e que foi fazer a matrícula dele mais uma vez. Ao chegar lá, conta que se lembrou que havia parado de estudar exatamente na mesma série em que o filho estava tendo dificuldades.
“Foi então que vi que na escola tinha o EJA, então pensei que poderia voltar a estudar com ele. Esperei ele completar 15 anos e nós nos matriculamos juntos, na mesma sala. Não queria que ele fizesse o mesmo que eu, de abandonar os estudos. Desejo um futuro diferente ao meu filho”, destaca.
De acordo com a mãe, inicialmente, o estudante Luiz Henrique Vasconcelos, de 15 anos, não gostou nem um pouco da ideia, mas, depois, ele acabou se acostumando.
“Por incrível que pareça, está dando super certo. O boletim dele não tem nota menor do que oito. Um ajuda o outro e isso eu acho muito legal. Tem matérias que ele gosta mais e tem mais facilidade, assim como tem outras que eu já me dou melhor, então nos apoiamos e trocamos conhecimento. Fazemos trabalhos, lições de casa, e estudamos para as provas juntos. A educação é muito importante e, se a mãe não estiver presente na vida escolar e social do filho, não vai para frente”, diz.
A autônoma afirma estar feliz e orgulhosa com o avanço do filho. De acordo com ela, a decisão também a trouxe uma nova e boa experiência. “A adolescência é uma fase muito difícil e é essencial que a mãe esteja acompanhando cada passo do filho. A educação é muito importante nas nossas vidas. Eu sei disso porque parei de estudar muito nova e me fez falta. Para mim, essa experiência de retornar a sala de aula é inexplicável. Parece que voltei 17 anos no tempo e estou ganhando uma nova oportunidade. Além disso, eu e o Luiz nos tornamos mais próximos e unidos depois de tudo isso. Melhorou o diálogo”, diz.
O professor deles, André Zeferino, apoia a ação da mãe e destaca a importância dos estudos para a pessoa, independente da idade. “É muito importante o aluno ter esse conhecimento diário e transformador. Pessoas que acreditam que não tem mais como estudar podem, sim, estudar. O EJA proporciona isso e elas jamais devem desistir. A educação é transformadora e pode garantir um futuro promissor”, finaliza.