Correio dos Campos

Por que o buraco na camada de ozônio está no menor tamanho já registrado

29 de outubro de 2019 às 08:05
Ilustração mostra o buraco na camada de ozônio em outubro de 2019; segundo a Nasa, a redução não é um sinal de que o ozônio atmosférico esteja em um caminho de recuperação rápida.

BBC/Ambiente Brasil – A agência espacial americana (Nasa) anunciou uma boa notícia sobre o buraco na camada de ozônio: o tamanho dele atualmente é o menor já registrado desde que foi descoberto, em 1985.

Mas essa redução no buraco não se deve ao impacto de medidas internacionais para conter a degradação do ozônio, mas a um fenômeno climático incomum na Antártica.

O buraco na camada de ozônio em cima do continente antártico é um fenômeno sazonal, que atinge seu maior tamanho em setembro e outubro e desaparece em dezembro.

Em 8 de setembro deste ano, a fissura atingiu um tamanho máximo de 16,4 milhões de quilômetros quadrados, mas foi reduzida para 10 milhões de quilômetros quadrados no restante de setembro e outubro.

Normalmente, o buraco atinge cerca de 20 milhões de quilômetros nesses meses, uma quantidade inferior aos cerca de 25 milhões registrados em 2006.

Essa redução “é uma grande notícia”, disse Paul Newman, cientista do Centro de Voos Espaciais Goddard, da Nasa.

“Mas é importante reconhecer que o que estamos vivendo neste ano se deve a um aumento de temperaturas na estratosfera. A redução não é um sinal de que o ozônio atmosférico está em um caminho de rápida recuperação”, afirmou Newman.

Reações em cadeia

O ozônio é uma molécula altamente reativa composta por três átomos de oxigênio.

Entre 11 e 40 km acima da superfície da Terra, em uma faixa da atmosfera chamada estratosfera, o ozônio funciona como um filtro solar que protege o planeta da radiação ultravioleta — nos seres humanos, essa radiação pode causar efeitos como câncer de pele, catarata e suprimir o sistema imunológico.

Quando a radiação solar começa a se intensificar no início da primavera, começam a se formar as condições para uma série de reações químicas, produzidas a partir de cloro e brometo de produtos industriais presentes na região.

Essas reações químicas ocorrem em partículas nas nuvens que se formam nas camadas frias da estratosfera. Quando a temperatura está mais quente, formam-se nuvens polares menos estratosféricas — e essas persistem por um curto período de tempo. Portanto, o processo de destruição do ozônio fica menor nesses momentos.

É a terceira vez nas últimas quatro décadas que mudanças no clima e na temperatura reduzem a destruição da camada de ozônio, de acordo com Susan Strahan, cientista do centro Goddard, da Nasa. Reduções por causas semelhantes também ocorreram em 1988 e 2002.

“É um fenômeno estranho que ainda estamos tentando entender”, afirmou Strah.

A uma altitude de 20 km, as temperaturas ficaram 16ºC mais quentes que o previsto.

O vórtice polar, um turbilhão de ventos frios ao redor dos polos, também ficou mais fraco, e a velocidade do vento caiu de uma média de 259 para 107 km por hora.

Em meados de outubro, o buraco na camada de ozônio permaneceu estável e deve se dissipar gradualmente nas próximas semanas.

Compostos industriais

Em 1997, vários países assinaram o Protocolo de Montreal, que proibia o uso e a produção de clorofluorcarbonos (CFCs), produtos químicos de origem artificial que contêm cloro e são utilizados em aerossóis, embalagens de espuma e materiais de refrigeração.

Mas esses compostos têm um tempo de vida bastante longo. E a presença deles na atmosfera continuou a aumentar até o ano 2000.

Desde 2000, os níveis de clorofluorcarbonos vêm caindo, mas ainda são altos o suficiente para produzir destruição significativa no ozônio.

Segundo a Nasa, a expectativa é que o buraco continue a diminuir nos próximos anos, mas o retorno ao nível em que ele estava em 1980 só vai acontecer por volta de 2070.