Correio dos Campos

Inédita no Brasil, iniciativa promove repovoamento de garoupas para salvar espécie da extinção

Ao todo, 10 mil alevinos produzidos em cativeiros foram introduzidos na natureza. Última soltura ocorreu na praia da Ilha das Cabras, região sul de Ilhabela (SP)
15 de maio de 2019 às 17:19
Projeto quer impedir que as garoupas entrem em extinção.

COM ASSESSORIAS – Com o objetivo de garantir o equilíbrio ecológico marinho e impedir que as garoupas entrem em extinção, a Associação Ambientalista TerraViva (Atevi) promoveu nesta quarta-feira (15) a soltura de 2 mil alevinos criados em cativeiro. A introdução dos peixes ocorreu na praia da Ilha das Cabras, na região sul de Ilhabela (SP), um santuário municipal onde a pesca não é permitida.

Essa foi a quinta expedição de repovoamento promovida pela Atevi, com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A iniciativa, inédita no Brasil, introduziu 10 mil alevinos ao longo da costa paulista em 2019. A previsão é de que, em 2020, mais 10 mil sejam soltos em habitat natural, totalizando 20 mil indivíduos reintroduzidos.

Solitária e territorialista, a garoupa possui escamas pequenas e pode atingir 50 quilos. Sua carne tem grande importância comercial, principalmente para a região Sudeste do país, onde é mais consumida. Todos os indivíduos da espécie nascem fêmeas e, somente com cerca de 15 anos, passam a ser do sexo masculino, o que, somado ao consumo excessivo da carne do animal, o coloca em risco de extinção.

Responsável técnica do projeto, Claudia Kerber destaca que a produção de alevinos em laboratório e a introdução em ambiente marinho é fundamental para garantir a sobrevivência da espécie. “Tivemos o cuidado de fazer o programa de repovoamento com animais iguais aos que estão na natureza. Pegamos todo o plantel de garoupas selvagens, fizemos o perfil genético e escolhemos todos os acasalamentos para obter um nível de parentesco muito baixo e o mais próximo possível da população que nós temos aqui na região”, afirma.

A previsão é de que o projeto tenha duração de dois anos, com monitoramentos a cada 60 dias. Os dados coletados vão embasar políticas públicas para a formulação de programas de repovoamento em vários locais da costa brasileira onde as garoupas já desapareceram.

Segundo o coordenador de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário, Robson Capretz, a ausência das garoupas gera consequências em todo o ecossistema marinho. “Assim como os tubarões e os meros, as garoupas são topo de cadeia na região que habitam e são muito importantes para manter o resto da cadeia equilibrada. Sem a sua presença, outros animais marinhos podem se reproduzir em larga escala, desequilibrando o ecossistema”, destaca.